sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Ar condicionado: vilão ou solução?

O objetivo deste post é promover o debate sobre alguns aspectos relativos aos ambientes com ar condicionado.
É muito comum encontrarmos na mídia questionamentos e recomendações negativas quanto ao uso do ar condicionado em ambientes, considerando os "malefícios" que sistemas de ar em ambientes fechados podem causar a saúde de seus ocupantes.  Além disso, outro argumento muito utilizado é o aspecto de consumo energético deste tipo de sistema.
Não é raro também, médicos e especialistas afirmar que os sistemas de ar condicionado são depósitos de microrganismos e, os ocupantes de ambientes fechados, estão vulneráveis à eles.
Procurarei aqui discutir os seguintes aspectos:

1) Feliz ou infelizmente a ocupação de ambientes fechados é uma tendência nas grandes cidades, por diversos aspectos, entre eles: conforto térmico (aquecimento global), segurança, nível de ruído, outros.

2) A engenharia disponível para sistemas de condicionamento de ar evoluiu muito e, é cada vez mais possível o uso de sistemas econômicos (com ciclos economizadores de energia, emissores UV e drivers), sistemas com controles adequados de umidade e temperatura, sistemas com dispositivos capazes de eliminar microrganismos - partículas viáveis (por emissores UV ou outras técnicas), sistemas de filtragem de gases orgânicos (muitas vezes gerados dentro do próprio ambiente condicionado) e sistemas de filtragem de particulado não viável.

3) Outro aspecto que favorece a ocupação de ambientes internos condicionados é, sem dúvida nenhuma a própria poluição ambiental das grandes cidades. A seguir considero alguns aspectos importantes:

- O perfil de partículado não viável em áreas urbanas e rurais é bastante diferenciado.  Nas áreas rurais, encontra-se em suspensão um número maior de partículas grossas (isto é, de grandes diâmetros).  Podemos chamar estas partículas de "partículas naturais", isto é, proveniente de fenômenos climáticos e decorrentes da própria natureza do local. A maioria destas partículas tem o diâmetro maior do que 2,5 micronmetros.  Já as áreas urbanas, pela influência do homem, queima de combustíveis fósseis, industrialização e etc, têm um perfil de particulado diferente. Neste caso podemos considerar que as "partículas geradas pelo homem" são, na sua maioria de diâmetro inferiores a 2,5 micronmetros.

- Para efeitos de risco à saúde, considera-se as partículas inaláveis (com diâmetro entre 2,5 micronmetros e 10 micronmetros) e as partículas respiráveis (com diâmetro inferior a 2,5 micronmetros). As partículas inaláveis (entre 2,5 e 10 micronmetros) são geralmente depositadas na região superior do aparelho respiratório (nasal) já as partículas respiráveis se depositam nos pulmões (região alveolar), pois são dificilmente expelidas por tosse ou espirro.

- No Brasil, apenas nos grandes centros, estão disponíveis os dados de qualidade do ar PM10 (partículas inferiores a 10 micronmetros). No entanto, a unidade de medição considerada é em micrograma/m³ (50mg/m³ é considerada boa).

- Ocorre que, é válido considerar que, a unidade de medida realizada pelas autoridades não é discriminatória e, certamente as partículas PM 2,5 tem seu peso próprio muito inferior.  Sendo assim, pode-se encontrar um local com a medição de 50mg/m³ com, por exemplo: 50milhões de partículas inferiores a 2,5 micronmetros e outro com 1 partícula inteferior a 2,5 micronmetros + 10 partículas inferiores a 10 micronmetros. Neste caso, a primeira situação seria bem mais prejudicial aos ocupantes.

Discuto:
- Cada vez mais, nas grandes cidades, os ambientes condicionados serão utilizados em virtude das condições externas hostis;
- Existem alternativas de engenharia capazes de permitir sistemas de condicionamento de ar seguros, de baixo consumo e com controle de contaminantes viáveis ou não viáveis;
- A qualidade do ar interno deve considerar sistemas de filtragem de gases (voláteis), eliminação de microrganismos e filtragem de particulado não viável (PM10 e PM2,5);
- O sistema de filtragem a ser projetado para um ambiente interno DEVE considerar as condições do ar externo disponível e manter a qualidade do ar interno em níveis favoráveis à ocupação humana;
- O monitoramento disponível da qualidade do ar externo PM10 deve ser discriminatório em função do diâmetro e distribuição das partículas e não considerado em peso.

Reflexão: "Os sistemas de ar condicionado também podem ser uma fonte de risco aos ocupantes, mas isso em caso de projeto deficiente ou manutenção inadequada. - Condenar o sistema de ar condicionado é como condenar um fabricante de veículo pela imprudência do condutor..."

Por: Engº José A. S. Senatore

2 comentários:

  1. Prezado Engo. Senatore,

    suas colocações são muito pertinentes.

    As dificuldades que tenho observado em relação aos sistemas de condicionamento de ar são:
    1- Desconhecimento de seu funcionamento pelos usuários finais.
    2- Economias na fase de instalação do sistema, muitas vezes em desacordo com o projeto original, apenas para fechar o custo "permitido".
    3- Falta de condições para fazer um projeto adequado, leia-se, falta de informações sobre ocupação futura, equipamentos instalados, condições externas médias (material particulado).
    4- Falta de "tempo" para avaliar diferentes propostas de sistemas de condicionamento de ar.

    Sistemas de ar condicionado foram concebidos para garantir conforto e melhoria da qualidade de vida. Bons sistemas garantem a saúde do usuário.

    Mas deixo uma reflexão adicional, em um momento no qual os recursos energéticos são mais escassos e caros, não seria o momento de reduzirmos as cargas térmicas - com melhores projetos civis e arquitetonicos.

    Com menores cargas térmicas, poder-se-ia trabalhar o controle de temperaturas usando 100% de renovação (lógicamente com a preocupação com os contaminantes externos).

    Creio que como engenheiros devemos explicar melhor aos leigos como opera um sistema de condicionamento de ar. A cada dia, vemos mais soluções mirabolantes sendo apresentadas em canais de vendas pela televisão...

    Marco Adolph

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  2. Prezado Marco,
    Concordo com sua reflexão acerca da melhoria de qualidade dos projetos civis.
    Creio que ainda são raros os profissionais engenheiros civis e arquitetos que são capazes de integrar em seus projetos os conceitos de edificações inteligentes e sustentáveis, do ponto de vista técnico.
    Atualmente o conceito de sustentabilidade está muito na moda e é pouco aplicado na prática.
    Existem muitas situações onde, o desconhecimento dos benefícios futuros de uma instalação tecnicamente sustentável, por parte de alguns projetistas e principalmente dos clientes finais, faz com que a questão custo inicial da instalação (preço) seja priorizada.
    Alguma coisa começa a mudar com os edificios certificados LEED, entretanto, me parece que as boas práticas de projetos visam mais a obtenção de pontos LEED do que o próprio bem estar dos ocupantes, isto é, se não há o objetivo de certificar o empreendimento, então também o projeto não necessita de recursos técnicos adicionais.
    Acredito, por fim, que a integração dos profissionais das diversas áreas envolvidas no projeto de um empreendimento (onde os ocupantes deverão passar, em média, 9 horas diárias) seja fundamental para a melhoria da qualidade do ar e bem estar dos ocupantes.

    J.Senatore

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