domingo, 22 de março de 2020

Purificadores de ar com filtros HEPA e o Covid-19

Na qualidade de especialistas em filtragem do ar e, considerando as circunstâncias atuais de disseminação do Covid-19 no Brasil, julgamos importante nos posicionar. Neste momento é necessário reforçar aspectos técnicos e cuidados a serem considerados na tomada de decisão, para evitar mais riscos do que benefícios.  
Os filtros HEPA são largamente empregados na indústria farmacêutica e em hospitais (além de outras aplicações industriais). Sua principal característica é a alta eficiência para a filtragem de partículas sub-micromicas, entre elas microrganismos como bactérias e vírus.
Isto ocorre porque sua eficiência mínima é determinada para a partícula de maior penetração (MPPS) que, geralmente está próxima de 0,2 mícron (para filtros tradicionais) e de 0,08 mícron (para filtros em membrana).
A informação que circula atualmente é de que o diâmetro do Covid-19 é aproximadamente 0,18 mícron. Neste sentido pode-se que considerar que um filtro HEPA H-13 é capaz de filtrar mais do que 99,9% do vírus presente no ar.
Então o filtro HEPA é a solução?
Infelizmente não. O vírus se transmite no ar, porém sua alta taxa de transmissão é devida a sua permanência elevada em superfícies (o que não é muito comum). Por isso, a limpeza das mãos e das superfícies de contato é fundamental.
Sendo assim, o uso de barreiras de contenção primarias (máscaras, luvas) e higienização constante é fundamental.
Mas, e os filtros?
Eles podem ter um papel importante na redução das partículas no ar. Entretanto, o uso de um filtro por si só não garante que o ar limpo atingirá o local desejado, por exemplo, o leito de um paciente. Neste caso a difusão do ar limpo tem um papel fundamental para assegurar a adequada diluição dos contaminantes internos. Em termos técnicos, chamamos de efetividade da ventilação. Geralmente um bom sistema (de fluxo não unidirecional) apresenta uma efetividade de ventilação de aproximadamente 70%, isto é, o ponto onde a contaminação deve ser evitada é cerca de 30% mais contaminado do que a média do local.
No caso de isolamento (quartos em que há pacientes infectados), é recomendado que seja mantido em pressão negativa, isto é, o ar contaminado não pode sair do local sem que haja uma filtragem HEPA efetiva (isto é, com o sistema todo testado contra vazamentos). Isso não pode ser obtido unicamente com purificadores reciclando ar.
E os purificadores de ar?
Esses devem ser avaliados com extrema cautela, pois podem oferecer uma falsa sensação de proteção.
Não basta o equipamento ter um filtro HEPA instalado que assegura sua eficácia. Alguns critérios são fundamentais para a avaliação de sua aplicação, portanto é altamente recomendável a sua análise, entre eles destacamos:    

  • Possibilidade de verificar se o sistema tem vazamentos: - explicamos, o filtro HEPA tem sua eficiência testada em fábrica, mas a eficiência final do sistema depende de seu modo de montagem dentro do equipamento. Infelizmente é muito comum encontrarmos vazamentos nos sistemas devido ao projeto construtivo equivocado do equipamento ou ainda má instalação do filtro. Neste caso, o filtro irá vazar e consequentemente o vírus também. Por isso, o equipamento deve permitir o teste de estanqueidade do conjunto (que é normalizado) a fim de assegurar que o filtro e o equipamento estão íntegros e isentos de vazamentos;
  •  Alcance da distribuição do ar limpo e capacidade de diluição do ar do ambiente: não adiante o equipamento filtrar o ar de somente um espaço limitado do ambiente, portanto essa informação é fundamental para se conhecer a efetividade de ventilação do sistema e consequentemente o grau de proteção que está sendo oferecido aquele ambiente/paciente;
  •  É recomendado que o sistema de troca e manipulação dos filtros seja seguro. Para situações como essa, de alta transmissibilidade, é recomendado o sistema Bag-in Bag-out, onde os operadores/manutentores não tem contato algum com os filtros e estes já são trocados e descartados diretamente dentro de sacos plásticos apropriados, sem qualquer contato com o ar ambiente. Relembro: como o vírus fica ativo em superfícies por um longo período, o meio filtrante do filtro estará certamente contaminado e precisa ser resguardado.
  •  É recomendado que o sistema permite a desinfecção por agente sanitizante, por exemplo névoa de peróxido de hidrogênio, garantindo que o equipamento seja mantido isento de contaminantes em suas partes internas.
  •  É recomendado evitar a movimentação do equipamento de um ambiente para outro (muitos equipamentos são vendidos como portáteis), pois como dito anteriormente podem favorecer a contaminação cruzada entre ambientes. No caso de inevitável movimentação, é importante a avaliação criteriosa do risco e a aplicação de medidas de sanitização e avaliação da sua eficácia.

Recomendações finais: neste momento o desafio é enorme e as soluções devem ser administradas com bastante cautela e baseadas em conceitos técnicos e de gestão de risco, pois algumas soluções simples podem acarretar a falsa sensação de proteção e aumentar ainda mais o problema.

José A. S. Senatore - Engenheiro

Marco Adolph - Engenheiro PhD