sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Recomendações de filtragem do ar - NBR16401: vale a pena reconsiderar? - Parte1

Por José A. S. Senatore

Recentemente foi nos proposto o debate acerca da tabela 5 da NBR16401-3 que apresenta recomendações de classes de filtros de acordo com o ambiente aplicado.
O principal questionamento feito foi: - Será que as classes apresentadas para cada ambiente estão realmente corretas? - Será que elas promovem a qualidade do ar adequada e necessária aos ambientes? - Será que, simplesmente utilizando-se os filtros recomendados pela tabela, as pessoas e/ou os processos estarão protegidos?
O debate se iniciou e muitos argumentos concentram o foco na necessidade de uma tabela indicativa, visando facilitar a interpretação das necessidades dos usuários em função do ambiente aplicado.  A argumentação procura reforçar que, uma referência, precisa ser oferecida pela norma, para que os sistemas não possam ser projetados sem qualquer embasamento técnico objetivo, o que, certamente poderia colocar em risco os resultados desejados para cada ambiente.
Outro ponto a favor que pode ser considerado é, de certa maneira, a padronização de conceitos e equipamentos disponíveis no mercado, uma vez que a gama de produtos capazes de atender aos principais ambientes, estaria contemplada pela tabela, facilitando a fabricação em maior escala de produtos standart pelos produtores de equipamentos (mantendo os equipamentos especiais somente para um restrito número de aplicações).
Ocorre que, por outro lado, para permitir a referência de níveis de filtragem mínima, a tabela 5 precisaria ser muito mais extensa e completa, pois os ambientes não contemplados nela devem ter seu nível de filtragem projetado por "similaridade".
Afinal de contas, se é para se ter uma referência, ela deve ser o mais completa possível.
Por outro lado, voltamos a uma questão importante: - Donde foram retirados os níveis de filtragem sugeridos na tabela? E, esta fonte, se baseou em quais estudos para determiná-los?
Na realidade, a fonte donde bebemos esta água é a ASHRAE que, por sua vez, tem um critério bastante distinto de classificação dos filtros de ar daquele adotado no Brasil.
Lá, a classificação dos filtros é dada pela mínima eficiência de filtragem, o que não ocorre na norma EN779 em vigor, que é referência na norma NBR16401-3.
Portanto, será que podemos adotar uma fonte que se baseia em critérios distintos?
Além disso, é fato que o EPA nos Estados Unidos dispõe de vasta experiência e referência no monitoramento da qualidade do ar exterior, seja de agentes voláteis, seja de partículas PM 10 e PM2.5, o que no Brasil ainda é muito raro.

Para exemplificar o que digo:

Um filtro G-3 qualquer (conforme NBR16401-3 ou EN779) apresenta eficiência média inferior a 40% para partículas maiores do que 0,4µm. O seu método de classificação é feito pelo ensaio gravimétrico (arrestância), que é, fundamentalmente baseado na retenção do pó ASHRAE em massa.

OK. Vamos lá:
Conforme dito a eficiência MÉDIA do filtro G-3 pode ficar na casa de 30%@0,4µm.
No entanto, quando novo, sua eficiência INICIAL pode ficar na casa de 0,5%@0,4µm.
Isto significa que, quando o filtro está novo, cerca de 99,5% das partículas menores do que 0,4µm não são retidas!
Entretanto, ao se substituir o filtro G-3 por um filtro F-5, cuja eficiência média é aprox. 50%@0,4µm, a eficiência INICIAL do sistema pode subir para 10%, isto é, aumentando cerca de 20 vezes a retenção das partículas menores do que 0,4µm.

Alguns podem dizer: - OK, mas as partículas que prejudicam a saúde são aquelas inferiores a 2,5µm e, neste caso, as eficiências citadas seria maiores... Concordo.
No entanto devemos considerar que, nas grandes cidades, a concentração de PM 2,5 é muito maior e, no caso da qualidade do ar interno, deve-se considerar o grau de filtragem do ar externo (de renovação), do ar recirculado (com partículas geradas dentro do próprio ambiente) e de infiltração que, apesar de representar um volume menor, é admitido no ambiente sem qualquer filtragem, aumentando a concentração de partículas internas.

Fica, neste primeiro momento as reflexões acima dispostas para o debate.

Abraços a todos,

Um comentário:

  1. Marcos Antonio Vargas Pereira13 de novembro de 2011 às 03:35

    Bom Dia,Senhores

    Creio que qualidade de ar interior é função de muitas variáveis, tais como numero de trocas de ar, local de entrada de ar de renovação, emissão interna de particulados e por aí afora.
    É muito perigoso afirmar que adotando uma determinada classe de filtragem, é possível ter uma qualidade desejada do ar interior. Para se alcançar resultados plausiveis, é necessário se estudar cada caso para que se adote a solução desejada.

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